Enfrentar o diagnóstico de HIV e aceitar um tratamento para o resto da vida é penoso para qualquer pessoa. O vírus da Aids não traz mais consigo uma sentença de morte, como nas décadas de 80 e 90, mas ainda causa medo e sofrimento, principalmente entre as mulheres. Elas costumam ser mais discriminadas que os homens, e 30% delas apresentaram depressão e ansiedade após a confirmação da doença, segundo estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Entre os homens, 14% deles tiveram transtornos psicológicos depois do diagnóstico de HIV. “A diferença é significativa (entre gênero), e isso mostra a vulnerabilidade da mulher. Os sintomas fazem com que elas fiquem apáticas, sem forças para seguir o tratamento”, analisa a médica e orientadora da pesquisa, Palmira Bonolo.
A assistente social Heliane Moura, 49, conta que demorou seis meses para compreender que tinha o vírus HIV. Quando o diagnóstico chegou, o desespero a fez, inclusive, mudar de Estado. “Eu me mudei para Brasília porque as pessoas começaram a ir à minha casa me ver e achavam que eu ia morrer. Nós, mulheres, somos mais cobradas. Vivemos em uma sociedade machista e nos culpamos”, relatou. Ela lembra que fez terapia e conseguiu voltar para o mercado de trabalho como secretária, com ajuda de uma pessoa que conhecia a sua história.
Convivendo com o vírus HIV há 22 anos, Heliane conta que sentiu sintomas de ansiedade e depressão em várias fases da doença. “Tive outro relacionamento, a camisinha estourou e fiquei grávida. Mesmo me explicando, um profissional de saúde achou um absurdo. Mas me fortaleci e tomei o antiretroviral”, relatou.
Soluções. Segundo Palmira, tendo em vista que a mulher é menos acolhida pela família quando é diagnosticada com HIV, o serviço público precisa “cumprir essa função”. O profissional de saúde deve ficar atento para perceber sintomas de ansiedade e depressão ou de qualquer outro transtorno mental e encaminhar a paciente para o tratamento psicológico, conforme recomendação do estudo. “É preciso dar condições para que a paciente entenda o tratamento”, completou Palmira.
Além disso, a médica ressalta que as unidades de saúde precisam ser claras na explicação sobre a doença e as formas de tratamento, já que o nível de compreensão das mulheres sobre esses temas se mostrou menor que entre os homens. “Apenas 56% delas falam que entenderam muito bem o tratamento, contra 89% dos homens”, finaliza Palmira.
Ter filhos ajuda pacientes a enfrentarem o tratamento
Mulheres com HIV que têm filhos tendem a ter mais resiliência no tratamento contra o vírus, segundo a médica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Palmira Bonolo.
“Ter filhos é uma questão importante de afetividade e a vontade de proteger os filhos aumenta a capacidade delas de lidarem com a doença”, explica a médica. A assistente social Heliane Moura, 49, que tem o vírus, concorda com a médica. “Por causa de um filho, a mulher enfrenta qualquer coisa”, afirma.
Fonte: O Tempo